Julgamento de sete: Jaime Lannister vs. Rand al'Thor, por GRRM - Contos de A Roda do Tempo
Tradução de Kalil Zaidan.
O texto original encontra-se em: https://grrm.livejournal.com/147038.html
Julgamento de sete
Sor Jaime Lannister, o Regicida, versus Rand al’Thor, o Dragão Renascido
Por George RR Martin
Eles lutarão no terreno de torneios próximo de Porto Real.
Rand tem sua espada com a Marca da Garça, sua habilidade de canalização, o Poder Único. Jaime tem uma espada, uma lança, um cavalo. E… já que Rand aceitou seu desafio em transformar isso num Julgamento por Sete, Jaime também tem alguns amigos.
Aqui está a minha versão de como se dará a luta:
Um vento frio soprava do norte, mas o terreno de torneios ao longo do rio estava lotado mesmo assim. O povo comum tinha começado a jorrar dos portões da cidade de manhã cedo, para garantir os melhores lugares nas grandes arquibancadas de madeira que haviam sido erguidas à sombra das maciças muralhas de Porto Real.
A luta a ser travada hoje seria daquelas de contar aos netos; um campeão estava vindo de outro mundo, um feiticeiro de terrível poder, para enfrentar sor Jaime Lannister num Julgamento por Sete. Dificilmente um homem ali estava vivo da última vez que um Julgamento por Sete fora realizado em Westeros, e ninguém jamais havia visto um como aquele de hoje. A conversa pela cidade era que esse tal bruxo, Rand al’Thor, queria lutar sozinho contra o Regicida e seis companheiros. Alguns deles viriam de reinos distantes também, com poderes e habilidades que os tornaram lendas por direito próprio.
– Vão cantar canções sobre a batalha de hoje, – os velhos diziam entre si, conforme se acomodavam em seus bancos, ansiosos pela briga.
O pavilhão de sor Jaime ficava a oeste do fim das listas. Era todo de seda carmesim, com a cabeça de um leão dourado adornando o poste central. Dentro, Jaime Lannister bebericava uma taça de tinto da Árvore enquanto seus escudeiros lhe vestiam da cabeça ao calcanhar com aço folheado a ouro.
– Esse Rand tem algum título? – perguntou ao irmão. – Como devo tratá-lo? Sor Rand? Lorde Rand?
– Ele não é um cavaleiro, – disse Tyrion. – Nem um lorde. Começou como um fazendeiro, mas subiu muito na vida.
– Ele é rei? – Jaime já tinha matado um rei antes. Sangue real não o apavorava.
– Reis e rainhas e príncipes o servem, – disse Tyrion. – Ele se tornou algo próximo a um deus no mundo dele. Que parece se chamar Randland, aliás.
– Randland? – Jaime riu. – Quanta modéstia.
– O sujo falando do mal lavado. Lembra-se de Lannisporto?
– Só uma cidade, – disse Jaime. – Nem o pai presumiria nomear o mundo inteiro em nossa homenagem. Qual era o nome dessa terra antes de se chamar Randland?
– Os livros não falam. Ou se falam, não achei. – O anão deu de ombros. – O que posso fazer? São tomos grossos. E precisei ler várias outras coisas para encontrar seis campeões para lutar ao seu lado. Eu sei que Rand é um mestre espadachim e um feiticeiro. Ele acredita estar destinado a salvar seu mundo de alguém chamado Tenebroso. Ah, e ele tem três esposas. – Sorriu. – Deve ser legal ser o predestinado salvador do mundo.
Jaime considerou brevemente como poderia ser sua vida se ele tivesse três irmãs ao invés de só uma. Quase sentiu pena desse Rand al’Thor. Uma Cersei era mais do que qualquer homem conseguiria lidar.
– Então, cadê esses seis valentões seus?
– Ah, estão aqui. Gostaria de conhecê-los?
– Minha vida depende deles, de acordo com você. Sim. Traga-os.
Tyrion desceu do banco de acampamento.
– Como ordenar, irmão.
Ele os trouxe um a um; três homens e três mulheres. Um homem caolho, alto e belo, com cabelos loiros caindo sobre os ombros. Um mais velho, de ombros redondos, gorducho e com bem mais de sessenta anos, cujos olhos saltavam de trás de um par de lentes de vidro. Um camarada indistinguível, de cabelos e olhos marrons, com o rosto de um plebeu e um nariz que fora quebrado mais de uma vez. Uma sacerdotisa grávida toda de vermelho, com um rubi brilhante na garganta e dois olhos vermelhos que combinavam com seu tom. Uma garota magra como um graveto, emburrada, com uma mecha rubra em seus espetados cabelos marrons. E uma pálida jovem, esbelta, adorável, os cabelos uma cascata preta como carvão com discretos sinais de vermelho, presos por um círculo de metal escuro que lançava estranhas sombras nos olhos profundos dela.
Tyrion disse os nomes deles um de cada vez: Klaus, Tom, Jay, Melisandre, Hoey, Sharra.
Jaime Lannister cumprimentou cortesmente cada um, mas depois de terem ido, virou-se para o irmão e disse:
– Tyrion, você deu férias para os seus miolos? A sacerdotisa vermelha, tudo bem, pode ser útil, mas os outros… velhos, aleijados e crianças, e molengas, molengas, molengas. Eu poderia ter o Montanha e o Cão, Jon Snow, Brienne, Barristan Selmy… poderia ter um dragão ou três.
– Você matou um dragão na penúltima rodada, – lembrou-lhe Tyrion. – Você imagina que Rand não conseguiria fazer o mesmo? Nem sete cavaleiros poderiam esperar enfrentar Rand al’Thor por mais que um instante.
– E esse bando consegue?
– Veja e descubra, – disse Tyrion. – E agora deve me dar licença. Nossos convidados chegarão logo, e devo estar lá para recebê-los em Westeros.
* * *
Rand al’Thor passou pelo Portão em direção aos dentes de um vento frio do norte que agitou seu manto. As mulheres vieram atrás dele: Egwene, Nynaeve e Elayne trajadas como senhoras, Birgitte com seu arco e Aviendha com suas lanças, Min em suas roupas masculinas.
Um rugido saudou a aparição deles, conforme as arquibancadas lotadas ao redor do terreno de torneios irromperam em gritos e comemorações e assobios. Nas muralhas da grande cidade atrás deles, guardas começaram a bater suas lanças em escudos. Aviendha se agachou em posição de combate e Birgitte colocou uma flecha na corda do arco. Nynaeve fitou a aglomeração e bufou com desdém. Egwene franziu o cenho e alisou as saias. Min balançou a cabeça.
– Não deveríamos ter vindo, – disse ela. – Vi tudo isso numa visão. Rand, deveríamos partir agora.
– Logo, logo, – respondeu o Dragão Renascido. – Não vai demorar muito. Meu inimigo desta vez é só um espadachim. Um espadachim sem a mão da espada.
Ele olhou ao redor, procurando por esse cavaleiro chamado Jaime Lannister. Ao sul havia um rio rápido e largo e atrás deles, uma grande cidade murada. Não era de longe o que ele tinha esperado. Pensara que enfrentaria seu último adversário em alguma lua deserta ou num campo de batalha sangrento, numa clareira de floresta ou pradaria montanhosa, talvez num pátio de castelo… não em um terreno de festividades, com milhares assistindo.
– Destrua todos, – Aviendha insistiu. – Faça o chão se abrir e engoli-los, Rand, seu adversário e todos esses outros também. Quanto mais cedo sairmos deste lugar, melhor.
Rand franziu o cenho.
– Tem crianças aqui, – argumentou. – Metade da multidão é de mulheres. Jovens, velhos, pobres e ingênuos e mansos.
Ele conseguia ouvir os gritos de mascates vendendo carne assada e tortas quentes para as pessoas nas arquibancadas, os berros de apostadores proclamando seus lances (se Mat tivesse vindo, já estaria apostando, Rand não tinha dúvidas). Tinham feito um festival para a ocasião, pensou com desgosto. Com o Poder Único, ele poderia destruir tudo isso num piscar de olhos… mas matar tantos inocentes apenas para derrotar um fraco adversário seria um ato digno do Tenebroso.
– Se você não vai acabar com isso agora, nos deixe lutar ao seu lado, – disse Birgitte.
– Dei minha palavra de enfrentar esses adversários sozinho. Esse Jaime Lannister não tem outra arma que não uma espada. Ele não me ameaça.
As mulheres se entreolharam. Elayne suspirou.
– Homens, – disse Nynaeve, bufando.
Rand nunca pretendeu trazer as mulheres consigo. Não sabia que perigos este estranho mundo apresentaria e não gostava da ideia de expô-las ao perigo. Mesmo quando seu último adversário o tinha desafiado a uma luta de sete contra sete, ele insistira em lutar sozinho. Não havia como afastar as mulheres, entretanto. Elas não ouviam. Nunca ouviam. Apesar de parecer acumular mais mulheres a cada lugar aonde ia, ele ainda não sabia como conversar com elas. Talvez se Mat estivesse aqui… ou Perrin… seus amigos sempre tiveram facilidade com garotas.
Um anão caminhava oscilando em direção a eles, guiando um cavalo preto. O homenzinho estava ricamente vestido, porém com uma cicatriz, metade do nariz e um par de olhos de cores diferentes, um verde e um preto.
– Bem-vindos a Westeros!, – anunciou. – Sou Tyrion da Casa Lannister. Vejo que trouxe seis companheiras afinal de contas. Elas lutarão com você?
– Sim, – disse Min.
– Sim, – disse Aviendha.
– Sim, – disse Egwene.
Nynaeve bufou.
– Não, – Rand al’Thor disse com firmeza. – Lutarei sozinho.
– Nossos deuses podem não gostar disso, – o anão avisou. – Temos sete deles aqui. Um julgamento por sete honra a eles. Lute sozinho e você os insultará.
– O Criador é o único deus verdadeiro e há apenas um dele, – disse Rand.
– Eu não teria tanta certeza. – Tyrion acariciou o grande garanhão preto. – É costumeiro iniciar esse tipo de luta montado. Trouxe uma montaria para você. Se ele não agradar, temos outros.
– Não precisarei de um cavalo, – disse Rand.
– Quer que Jaime desmonte?
Rand deu de ombros.
- Caminhe ou cavalgue, não faz diferença.
– Ele cavalgará, então. E estará de armadura. Vejo que você não veste malha nem couraça.
– Estou armado com o Poder Único, – disse Rand. – E minha paciência está se esgotando. Uma guerra me espera em meu próprio mundo.
– A Última Batalha, sim, – disse o anão. – Li a respeito. Bom, não o deterei mais um minuto sequer. – Ele se virou para as mulheres de Rand com um sorriso lascivo. – Minhas senhoras, se fizerem a gentileza de me acompanhar, temos lugares reservados para vocês no cômodo real.
* * *
Tyrion tinha esperado três mulheres, mas o cômodo real era grande e foi fácil encontrar lugares para seis. O anão deixou o Dragão Renascido esfriar a cauda no meio do terreno de torneiros enquanto apresentava o séquito dele à sua doce irmã e o filho dela, o reizinho. Várias das mulheres de Rand eram “canalizadoras” que comandavam a mesma sorte de poderes mágicos que ele, e Tyrion tinha uma pequena esperança de que Cersei dissesse algo especialmente arrogante a uma delas e fosse transformada em algum tipo de réptil, ou talvez fosse apenas torrada até virar cinzas, mas infelizmente a rainha decidiu estar no seu melhor humor esta manhã e tudo foram gracejos e acolhida e sorrisos.
E Tommen encantou as mulheres, como o anão esperava que encantasse. Cersei trouxera alguns documentos para ele assinar e selar e o rei menino de pronto ficou feliz em mostrar às randlandesas como ele derretia a cera e pressionava o selo para deixar uma impressão. Felizmente, nenhuma das senhoras de Rand lia a Língua Comum de Westeros, então não notaram que os documentos que Tommen assinava eram todos sentenças de morte. Depois de algum tempo, todas menos Min estavam alegremente se arrulhando em volta dele.
Min o preocupava, verdade seja dita. A arqueira e a senhora da lança eram perigosas, ele não duvidava, e as canalizadoras igualmente com seus poderes mágicos, mas apenas Min parecia verdadeiramente sentir o perigoso em que seu senhor estava.
– Fiquem de olho naquela ali, – sussurrou ele para Jay e Joey, conforme se sentava entre eles, logo atrás das mulheres de Rand.
Jay fez que sim. Joey fez careta.
– Se eu estiver afim, vou ficar. Cadê minhas roupas de verdade, porra? Me sinto um idiota do caralho vestido com essa merda. Você não me disse que a gente ia pruma feira medieval.
* * *
Jaime Lannister trotou terreno adentro em um corcel castanho com uma crina parda, vestido com armadura dourada que reluzia e brilhava no sol.
Seu elmo fora moldado no formato da cabeça de um leão, com juba e rugindo. Sua montaria estava vestida com um caparação de fluidas sedas carmesins brasonadas com o leão dourado da Casa Lannister, e o manto branco de um cavaleiro da Guarda Real fluía de seus ombros. Um pesado escudo de carvalho estava em seu braço direito, uma lança com ponta de aço, agarrada na mão esquerda.
Na mão errada.
A direita, a mão dourada, não conseguia segurar uma lança, muito menos uma espada. Houve uma época, não muito distante, quando Jaime era tão bom nas justas quanto qualquer um nos Sete Reinos, com boas chances de vencer qualquer torneio em que se inscrevesse. Essa época acabou.
A multidão ficou em silêncio por um instante. E então um som se inflamou, um misto de vivas e xingamentos. Porto Real não tinha motivos para amar os Lannister, apesar de Jaime sempre ter sido um favorito do povo… mas somente porque os mais espertos ganharam um bom número de moedas apostando nele. Ele se perguntou como estavam indo as apostas hoje.
Seu adversário esperava do outro lado das listas, seu manto se agitando ao vento. Jovem, pensou Jaime, olhando para ele. Não mais do que um rapaz. Rand não usava armadura. Havia recusado tanto o cavalo como a lança, do jeito que Tyrion disse que iria. Deverá ser algo simples atropelá-lo com o cavalo e enfiar a ponta da lança em seu peito, mas Jaime não era tolo.
– Não tente enfrentá-lo sozinho, – Tyrion o alertara. – Ele tem dezenas de jeitos de matar você antes que chegue a 10 metros dele. Isto é um Julgamento por Sete. Você não conseguirá ganhar por si só. Use a ajuda que eu lhe trouxe.
A ideia o enfezou. Jaime puxou e levantou a viseira do elmo.
– Al’Thor, – gritou. – Me disseram que você é um espadachim. Eu também. Jure que não vai usar seus truques de mago, aqui perante os olhos dos deuses e dos homens, e eu não convocarei meus seis companheiros. Poderemos decidir essa questão como homens, só nós dois, espada com espada.
Rand sorriu.
– Você não vai me tapear fácil assim, Lannister. O que você chama de “truques de mago” são tão parte de mim quanto meus braços e minhas pernas. Não vou me aleijar para sua conveniência. Traga seus companheiros. Não os temo e nem a você. Mas venha, vamos terminar com isso. Sou o Dragão Renascido e a Última Batalha me aguarda.
Bom, eu dei uma chance a ele.
– Esta será a sua última batalha, fazendeiro, – respondeu Jaime. Pôs dois dedos na boca e assobiou.
Klaus foi o primeiro a aparecer. Alto como Jaime e ainda mais loiro, com ombros largos e longas pernas, um remendo cobrindo um olho. Trajava lã e couro, sem armas. Depois veio Sharra, de manto e capuz, uma besta nas mãos, uma aljava de dardos no quadril. Ao redor das sobrancelhas, meio escondida pelo capuz, estava a coroa sombria. E então Melisandre chegou, enorme de grávida, suas vestes vermelhas sacudindo sobre a barriga inchada. Chamas dançavam ao redor dos dedos e o rubi na garganta dela pulsava vermelho. E detrás do pavilhão de Jaime, uma forma cinza e sinistra flutuava pelo ar, algo como uma tigela virada para baixo e vestida com armadura pesada, mas larga como a tenda que a cobria. Ela subia e subia, embora o céu não fosse seu lugar tanto quanto não seria o de uma bigorna.
Rand al’Thor analisou um de cada vez.
– Cinco, – disse. – Me disseram que haveria seis.
– O fazendeiro sabe contar. – Jaime abaixou a viseira e esporeou o cavalo.
* * *
Rand al’Thor os viu vindo, esperando, canalizando, absorvendo profundamente o Poder Único. Lannister avançava a galope, a ponta de sua lança abaixada. A ameaça mais próxima e mais óbvia, mas a que ele menos temia. Ele conhecia Jaime e sabia tudo de que era capaz; esses outros eram desconhecidos, e portanto perigosos.
A mulher encapuzada tinha carregado sua besta e a elevado sobre o ombro. Ela avançava caminhando também, lenta e deliberadamente, mas virotes eram uma outra quantidade conhecida e não representavam perigo real para um canalizador. O gigante casco de tartaruga de ferro era mais misterioso, mas era ponderadamente lento. Ele teria tempo para lidar com aquilo, não tinha dúvidas.
Os dois últimos o perturbavam mais. O grande homem loiro aparentava estar desarmado, e a mulher… Rand sempre fora relutante a ferir mulheres, e enviar uma grávida contra ele… era um golpe de mestre, quase digno de um Abandonado. Será que acham que, se me fizerem matar um homem desarmado e uma grávida na frente de milhares de testemunhas, isso me quebrará?
Talvez teria quebrado, um dia. Mas Rand não era mais aquele garoto que fora. Jaime Lannister e seus amigos estavam prestes a aprender essa dura lição.
A mulher encapuzada disparou o virote. Rand conseguia senti-lo voando em sua direção, o frio ar matinal perpassando as plumas. Um piscar de olhos depois, a mulher de trajes vermelhos gritou o nome “R’hllor” e disparou uma bola de fogo na direção dele com o estralar do punho. Rand conseguia ouvir a bola de fogo estalando conforme deslanchava pelo campo. Conseguia ouvir o as batidas dos cascos do cavalo de guerra de Jaime Lannister também, chegando mais e mais perto, rasgando o chão a cada passada.
Rand direcionou o Poder Único. Uma repentina ventania agarrou o dardo de besta e o lançou rumo ao homem caolho de cabelo loiro liso. Rand apanhou a bola de fogo no meio do trajeto também e a jogou para cima rumo à enorme tartaruga de metal. Nesse ponto, Lannister estava quase chegando, a ponta da lança nivelada para a garganta de Rand. O Dragão o deixou chegar a um metro dele, e então abriu um Portão, entrou nele e reapareceu na ponta mais distante do terreno, ao lado da tenda de Jaime. A multidão suspirou e começou a bradar e berrar.
Do outro lado do campo, o Regicida arreou o cavalo subitamente e o virou, procurando por seu adversário. A mulher vestida de vermelho estava mais perto, entretanto, e foi a primeira a achá-lo.
Não mais que 5 metros os separavam. O rubi na garganta dela radiou enquanto ela lançou outra bola de fogo até ele. Rand a enxotou e sorriu, conforme a tenda de Lannister começou a queimar, as chamas roçando as laterais.
– Para o seu bem e o de seu bebê, parta deste campo, minha senhora, – ele alertou a ela. – Não espere derrotar o Dragão com fogo.
Antes que a mulher vermelha pudesse responder, Rand sentiu outro dardo de besta voando até ele. Criou outro Portão, atravessou e o deixou passar pelo local onde estivera. Desta vez, ele reapareceu ao lado da mulher encapuzada, bem quando ela estava pegando outro virote. Ele canalizou e a besta se despedaçou na mão dela. Lascas cortantes de madeira foram facilmente desviadas pelo Poder Único no qual Rand se revestira. A garota xingou e alcançou uma faca. Uma faca? Ela realmente acha que pode me ferir com uma faca? Rand fez a terra sob os pés dela subir, derrubando-a… e então virou-se a tempo de confrontar um novo adversário. Outro cavaleiro. De onde ele veio?
Esse cavaleiro estava todo de branco da cabeça aos pés. Asas brotavam das têmporas de seu elmo de guerra. Em sua placa peitoral estava gravado um cálice. E toda a armadura dele brilhava, imbuída de um resplendor suave e fantasmagórico. Num instante, estava desarmado. No outro, uma espada estava em suas mãos, branca, brilhante, viva e resplandecente. Callandor, Rand pensou apenas por um instante… mas não, era impossível, nenhum homem além do Dragão Renascido podia empunhar Callandor com segurança.
O cavaleiro branco chegou até ele. Não teve tempo de sacar sua própria espada, mas Rand não tinha medo. Contanto que estivesse com a armadura de Poder Único, nenhuma lâmina poderia–
O corte veio como um raio de encontro à sua aura protetora com um clarão de luz cegante e um som como uma alma condenada urrando dos poços de Shayol Ghul. E então a dor atacou, e Rand al’Thor percebeu que era seu próprio grito que estava escutando. Cambaleando, abriu um Portão e atravessou capengando.
* * *
Tyrion Lannister deu um sorriso torto enquanto assistia a Rand sumir novamente, apenas para reaparecer a alguns metros do cômodo real. O rosto do fazendeiro estava pálido de dor e nos olhos dele o anão viu uma suspeita de dúvida, como se ele tivesse se dado conta pela primeira vez que talvez estivesse em perigo aqui. Sem sangue, no entanto. Ele estava esperando sangue. A armadura invisível de Rand fora forte o suficiente para deter a lâmina de aço fantasmagórico de Lohengrin, se não o corte teria arrancado o braço dele na altura do ombro… mas não forte o suficiente para atenuar completamente o choque do golpe. Klaus o machucara.
As mulheres de Rand viram isso também. As duas que estavam conversando baixinho entre si de repente ficaram em silêncio e a que estivera puxando a trança esse tempo todo arfou. No entanto, era a garota de cabelo curto que o preocupava mais, Min em suas roupas de homem. O jeito como ela estreitava os olhos. Ela não vai deixá-lo morrer, o anão percebeu. Não se puder impedir. Ele cutucou Jay com o cotovelo e acenou para ela.
– Eu sei, – disse Jay.
A luta quase acabou ali. Rand estava em agonia, meio tonto pelo golpe inesperado e seus inimigos se aproximavam para o abate. Lohengrin disparou na direção do Dragão de um lado, Jaime em seu corcel, do outro. Doze metros acima, o casco da Tartaruga flutuava para mais perto. E na metade do campo, banhada pela luz do pavilhão em chamas, Melisandre de Asshai havia retirado as vestes, ficando pelada sob o calor do fogo, a pele pálida reluzindo, as coxas tremendo, dando à luz. A multidão gritava por sangue, e por um breve instante até Tyrion ousou ter esperanças de que o fim estava próximo.
E então, de uma vez só, Rand pareceu se recuperar. Talvez ele tivesse usado a canalização para se curar, ou talvez uma dessas mulheres no cômodo real tivesse feito isso para ele; algumas delas também eram canalizadoras. Vai, o anão pensou, canalize o quanto quiser. Especialmente a cura. Talvez se ele tivesse pedido com educação eles até o teriam curado. Fechado sua cicatriz, feito crescer um nariz novo para ele, lhe dado força e altura. Se pudessem fazer isso, talvez eu até volte para Randland com eles e lute na Última Batalha. A ideia de uma última batalha lhe apetecia. Em Westeros, nunca tinha uma última batalha. Nem teria, contanto que os homens continuassem jogando o jogo dos tronos. Talvez Rand me desse uma de suas mulheres se eu passar pro lado dele, o anão fantasiou. Não é como se ele não tivesse o suficiente.
Lá embaixo no campo, o chão sob o cavalo avançando de Jaime explodiu em uma chuva de terra e pedra, arremessando seu irmão e o pobre cavalo rodando pelo ar como folhas numa tempestade. Um instante depois, Lohengrin desacelerou e cambaleou, depois caiu de joelhos. Sua espada apagou, depois a armadura, enquanto ele arquejava e agarrava a garganta de um jeito que grotescamente lembrava ao anão da morte de seu sobrinho, Joffrey. Ar, Tyrion notou. Rand tirou o ar dele. Klaus não consegue respirar. Pedras começaram a cair do céu, blocos de rocha do tamanho da cabeça de um homem choveram sobre a Tartaruga acima, mas cada um deles estourava antes de chegarem a Rand, despedaçados pelo Poder Único.
Mas o maior perigo ainda permanecia. Melisandre tinha dado à luz, e a sombra sinuosa que emergira de seu ventre voava em direção ao fazendeiro, veloz como o pensamento. A visão daquilo deixou até Tyrion com medo. Nas arquibancadas, homens adultos começaram a berrar como garotinhas, seus gritos e berros se mesclando aos urros do cavalo moribundo de Jaime. Rand ergueu uma parede de terra para bloquear seu caminho. A sombra passou através dela. Ele invocou um redemoinho, mas o vento não podia tocar algo que não tinha substância.
Estava quase chegando quando ele usou fogo devastador.
O feixe era tão luminoso que ardia os olhos, e Tyrion teve que jogar o braço por cima do rosto. A sombra era tão negra que parecia um buraco no mundo, impossivelmente escura, distorcida, deformada. Eles se encontraram em um silêncio tão profundo que o anão conseguia ouvir o mundo gemer e senti-lo estremecer sob seus pés. Por um momento, ele temeu que as arquibancadas fossem colapsar e matar todo mundo.
Quando conseguiu enxergar novamente, a sombra havia sumido e Melisandre de Asshai também. Meu filho, Tyrion pensou. De certa forma, ele não sentiu a perda. No campo, Rand usava o fogo devastador de novo, contra o casco da Tartaruga… mas desta vez o feixe foi fraco, vermelho, como a última luz do sol quando ele some no oeste. Havia fumaça na armadura grossa do casco, mas exceto isso não sofreu nada. Depois de um instante, Rand percebeu também e se voltou para o fogo terroso que tinha consumido o pavilhão de Jaime, moldando-o como um dragão ardente e mandando-o para cima… apenas para se dispersar diante da armadura de Tom.
E então Rand perdeu o chão e começou a se debater no ar e a tremer violentamente. Por um instante, Tyrion pensou que o garoto estava voando, mas, se fosse isso, não era por vontade própria. Lutando contra as mãos invisíveis que o tinham agarrado, o Dragão Renascido se contorcia e chutava e se debatia. A Tartaruga o elevou a uns 10 metros e o fez cair de cabeça, elevou-o de novo, prensou-o mais uma vez.
Melisandre se fora, nem uma pilha de ossos queimados havia sobrado para mostrar onde ela tinha morrido, e Lohengrin estava no chão e talvez morto também, mas Sharra avançava, a faca na mão, a Tartaruga flutuava ameaçadoramente acima, e o próprio Jaime se levantava mais uma vez.
As mulheres de Rand viram o perigo para ele também. De uma vez, três delas investiram. A arqueira parou e puxou uma flecha da aljava, a lanceira agilmente saltou do cômodo para o campo, e uma das senhoras tinha uma expressão de concentração no rosto que assegurava que ela estava canalizando. Tentando canalizar, pelo menos, o anão pensou, quando a expressão de concentração deu lugar a receio e confusão.
Ainda assim, melhor não arriscar. O anão de novo deu um cutucão nas costelas de Jay Ackroyd.
– Hora do seu truquezinho.
Jay deu de ombros.
– ???????
Elevou a mão, levantou o polegar, apontou com o indicador. A arqueira sumiu com um pequeno “pop” enquanto ela puxava a flecha até a orelha. Outro “pop” e a lanceira também sumiu, pega no meio do caminho. Pop, pop, pop, e as três senhoras desvaneceram uma depois da outra.
Tyrion agarrou a mão e Jay e a puxou para baixo logo que seu dedo ia em direção de Min.
– Ainda não. Quero falar com aquela ali.
O rosto da garota estava sombrio de fúria.
– O que você fez com elas? – A faca estava na mão dela.
Jay deu de ombros.
– Elas tão bem. Só não tão aqui.
– Traga elas de volta, – exigiu a garota.
– Queria poder, – disse Popinjay. – Mas meus truques só funcionam em uma direção. – Ele apontou para Sharra lá embaixo. – Ela é quem você quer. Melhor torcer pro seu namorado não matar ela.
– Quem é ela?
– Sharra, ela é chamada, – disse Tyrion. – A garota que caminha entre os mundos.
Onde você acha que arrumei todos esses livros que andei consultando desde que essa loucura começou?
* * *
Os ferimentos de Rand se abriram de novo, os velhos ferimentos que não saravam. Quando se levantou, ele conseguiu sentir o latejar na lateral, a agonia alfinetando seu interior como uma faca cega. Sua cabeça estava pulsando também, e inimigos o cercavam de todos os lados. Quando se virou para as mulheres, torcendo para que uma delas o Curasse, apenas Min restara. O resto sumiu, mas para onde ele não sabia dizer.
E o pior de tudo, ele não conseguia canalizar. Quando sfjsjf o Poder Único, não havia nada lá.
– Afaste-se, – ouviu Jaime Lannister dizer. – Al’Thor é meu.
Jaime parecia tão péssimo quanto Rand. Tinha perdido a mão dourada, então o braço direito terminava num cotoco. Ele visivelmente mancava, favorecendo a perna esquerda. Sangue cobria o peito e o braço, por ter cortado a garganta do cavalo moribundo. Porém a espada de Lannister estava na mão dele.
Ele era Rand al’Thor. Era o Dragão Renascido. Não ia morrer suavemente. Não podia terminar assim. Não aqui, neste mundo abandonado pelo Criador. Eu sou ta’veren. Preciso lutar na Última Batalha. Saco a própria espada, com a lâmina de Marca da Garça.
– Espada com espada, então, – disse Rand.
– Era tudo que eu queria, – disse Jaime Lannister, de trás do elmo de cabeça de leão que escondia seu rosto.
* * *
Não levou muito tempo até Jaime perceber que Rand era melhor do que ele.
Se não tivesse perdido a mãe da espada, eles poderiam se igualar, mas ter tido que reaprender a lutar com sua mão comum tinha roubado metade de seu talento. Cada golpe que infligia era um pouco mais lento, cada defesa vinha um triz mais atrasada. Contra um oponente trivial, nada daquilo importaria… e acabado e machucado como estava, com dor evidente, Rand al’Thor era tão rápido quanto qualquer homem que Jaime já enfrentara. Se Rand não estivesse tão seriamente ferido – sangue pingava através das roupas por toda sua lateral – as habilidades dele com a espada teriam sido um desafio até para Barristan, o Ousado. Sor Arthur Dayne teria se saído melhor, Jaime não duvidava, mas apenas com Alvorada nas mãos.
Como é que um fazendeiro fica tão bom com uma espada? Jaime se perguntou, enquanto se afastava de um ataque talhante tão rápido que Rand pareceu ter três lâminas. Em Westeros, um garoto de nascimento nobre começava a treinar quase assim que aprendia a andar. Ele serviu por anos como pajem e depois escudeiros, treinando todo dia por longas horas. Primeiro com espadas de madeira e então com aço cego de torneios, praticando até que suas mãos estivessem duras com calos e cada movimento e golpe e posição se tornassem naturais para ele e que lutar viesse fácil como respirar. Poucos fazendeiros jamais poderiam esperar ter algo assim, não importando o quanto fossem fortes ou velozes. Não era algo que um homem poderia dominar ao arar campos ou ordenhar vacas. Ainda assim, aí estava ele. Jaime deu mais abertura. Ele não sabia o que ta’veren era, mas Rand al’Thor era simplesmente excepcional.
A espada dele era especial também. Uma lâmina curva e leve, mas que de alguma forma conseguia se garantir contra Lamento da Viúva, o que nenhum aço comum jamais esperaria conseguir. Jaime nem poderia duvidar do fio dela. Se estivesse sem armadura, como Rand estava, o fazendeiro o teria matado meia dúzia de vezes até agora, golpeando através de tecido e carne e osso como se fossem queijo.
Mas a armadura folheada de Jaime era bem forjada e pesada, um conjunto completo de placa e malha, e nenhuma lâmina, não importa o quanto fosse afiada ou ligeira ou bem balanceada, podia atravessá-la.
A única esperança de Rand era encontrar um ponto fraco. Havia pontos fracos, claro… mas mesmo sem a mão da espada, Jaime Lannister ainda tinha habilidade o suficiente para protegê-los.
E assim lutaram. Rand deslizava de uma forma para outra, sempre gracioso, sempre equilibrado, tão ligeiro na defesa quanto no ataque. Jaime o deixou liderar, melhor para conseguir avaliá-lo. Lamento da Viúva barrava e desviava a maioria de seus ataques, e aqueles que atravessaram resvalavam inofensivamente a armadura dele. Os golpes de Rand se tornavam mais ornados e elaborados, combinações complexas de cortes e investidas e engodos, planejados para que fizessem um adversário se abrir para o golpe fatal. Lutar com espadas era uma dança para ele e cada passo tinha seu próprio nome. Tyrion o havia alertado quanto a isso. O Javali Dispara Montanha Abaixo. O Arco da Lua. O Cortesão Abana Seu Leque. A Pomba Alça Voo. Lascas de folheamento voavam da armadura de Jaime e pedaços da juba, de seu elmo.
E então o Raio Atinge o Carvalho. Aquela ali quase acabou com ele. Uma mistura intrincada de ataque e defesa, que, de alguma forma, permitiu a Rand deslizar uma perna para trás da dele. Se Jaime tivesse tentado recuar, teria acabado no chão.
Ao invés disso, ele investiu para a frente, jogando todo seu peso em Rand, as lâminas deles travadas juntas. Ele era o maior dos dois, mais alto, mais forte, e sua armadura o tornava muito mais pesado. Foi Rand que caiu. Jaime chutou a espada da mão dele e depois prendeu o punho dele no chão com o calcanhar.
– Essa eu chamo de “o Leão Derruba o Dragão Sobre a Própria Cauda”, – disse ele conforme colocava a ponta de Lamento da Viúva contra o pomo de adão de Rand. – Agora renda-se, Dragão. A não ser que queira renascer de novo e começar tudo mais uma vez.
* * *
Mesmo quando tudo estava terminado, a garota chamada Min não entendia como seu homem tinha perdido.
O terreno de torneios estava deserto naquele momento. Os mortos tinham sido levados em carroças pelas Irmãs Silenciosas, os mascates tinham fechado seus quiosques, os vencedores tinham coletado seus pagamentos, os perdedores tinham pagado ou fugido. O pavilhão de Jaime tinha queimado até o chão, então os Lannister e seu séquito restante tinham se recolhido para a Fortaleza Vermelha. Tyrion havia convidado Min para acompanhá-los, enquanto os meistres cuidavam do Dragão Renascido.
Jay e Joey já tinham partido – e Joy estava tão brava quanto estivera quando tinha chegado, reclamando que ele a havia arrastado para uma Feira Medieval de merda por nada quando ela deveria estar festejando no Mardi Gras. Jaime estava sentado em silêncio no canto, portando uma taça de vinho e uma saudável coleção de novos hematomas.
Conforme Tyrion servia taças de dourado da Árvore para Min e Sharra, o anão explicou da melhor forma que conseguia.
– Aqui é Westeros, não Randland, – disse.
– Isso não deveria importar, – Min insistiu teimosamente. – Todos os mundos são somente raios na grande Roda do Tempo.
– Não, – disse a garota chamada Sharra, com a coroa escura e as sombras nos olhos. – Existem mais mundo do que estrelas nos céus, mais do que todos os grãos de areia em todas as praias de todas as terras que existem… e em cada uma delas, os homens se convencem de que o deles é o único mundo que existe, de que os deuses deles são os únicos verdadeiros, de que o que é verdade no mundo deles é verdade nos outros. Nunca é. Andei por milhares de mundos, Min. Isto eu sei.
Tyrion concordou.
– O Poder Único que Rand al’Thor e essas Aes Sedai de vocês empregam na canalização… bem, pense nele como se fosse água. No seu mundo, é um oceano grande e invisível, profundo e inesgotável, fluindo para todo lugar exceto para algumas ilhas que vocês chamam de pousos. Aqui em Westeros, entretanto… este mundo é seco que nem ossos em comparação ao de vocês. Ah, nós temos alguns poços profundos, certamente… um rio aqui, um lago ali… mas frequentemente o que parece ser um lago na verdade é só uma poça. É isso que Rand encontrou aqui, em Porto Real. Existem locais mágicos neste mundo, mas este não é um deles. Quando Rand atravessou o Portão e começou a canalizar, ele extraiu o poder que havia aqui e logo o exauriu. O seu amante, é isso? Marido? Namorado? Como quer que você o chame, ele é MUITO poderoso, como fiquei sabendo ao ler os livros que Sharra gentilmente me trouxe, então ele drenou aquela poça bem depressa, especialmente quando usou o fogo devastador. Poucos instantes depois e ele tinha criado um deserto. Quando isso aconteceu, ele não conseguiu mais canalizar.
– Mesmo se o que você diz for verdade, – disse Min – Rand… ele é ta’veren.
– Lá, – disse Sharra. – Aqui não.
– Ninguém é ta’veren em Westeros, – disse Tyrion. – Nossos deuses são mais franzinos que os seus. Eles não têm favoritos.
Embora existam alguns no quais eles gostam de mijar, refletindo agora.
– Seus deuses são falsos, – Min insistiu. – O Criador…
– Eu conheci seu Criador, – o anão interrompeu. – Lorde Jordayne, ele era chamado aqui. – Bebericou do vinho e sorriu com tristeza. – Um bom camarada, de coração quente e generoso, com um humor raro e fino. Ele morava lá ao sul, no Tor, e era famoso por sua hospitalidade. Lorde Jordayne deixa muita saudade para aqueles que o conheceram. As histórias que contou serão lembradas com carinho por todos que as ouviram. Mas ele não criou Westeros, minha senhora, assim como Lorde Costayne ou Lorde Vance ou Lorde Peake. Temos nosso próprio Criador aqui… um mais cruel do que o seu, temo. No domínio dele, o único padrão é ????. Não há ta’veren. Nenhum homem jamais está a salvo.
Sharra se levantou.
– Se vocês gostariam de ir para casa agora, eu os levarei, – ela disse a Min. – Iremos por outro mundo que conheço. Pode ser que isso te interesse. Os príncipes de lá são feiticeiros de grande poder e guerreiros sem-par. Eles insistem que o mundo deles é o verdadeiro e que todos os outros mundo são apenas sombras do deles. Um pessoal colorido, mas briguento.
– E quanto ao Rand? – perguntou Min, levantando-se. – Ele vai conseguir abrir um Portão?
– Não, – disse Tyrion. – Mas Sharra retornará por ele, quando os meistres tiverem terminado de enfaixar seus ferimentos. Ela só consegue levar uma pessoa por vez.
– E Nynaeve e Egwene e as outras?
O anão fez careta.
– Isso levará um pouco mais de tempo. Jay só consegue teleportar seus alvos para lugares que conhece. Atualmente ele só conhece dois mundos. Um é um local funesto chamado Terra. O outro é pior. Mas retornaremos com elas para você, não tema. Tem minha palavra como Lannister. Rand pode precisar delas para essa Última Batalha de vocês. – sorriu. – Não podem deixar esse Tenebroso vencer, afinal. Ele pode aparecer do lado de fora de nossas muralhas em seguida.
Quando tinham ido embora, Tyrion se virou para o irmão.
– Bem, parece que acabou.
– Suponho que sim. – Jaime soava esgotado. – Uma pena que não tenhamos um Senhor Sombrio aqui. Pelo menos em Randland um homem sabe quem é seu inimigo. – Ele estudou Tyrion. – Uma pergunta, irmão. Quando nos despedimos nas masmorras, certas coisas foram ditas…
– Não me esqueci, – disse Tyrion suavemente.
– Nem perdoou?
– Um Lannister sempre paga suas dívidas, irmão, – disse o anão.
– Por que me ajudar, então? Eu nunca teria sobrevivido a nenhuma dessas disputas sem você.
Tyrion deu um sorriso selvagem
– Ora, Jaime, – disse, balançando o vinho na taça. – Somos do mesmo sangue, você e eu. Ninguém pode matar meu irmão… apenas eu.

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