A graça da ficção histórica | Praia de Manhattan & Um cavalheiro em Moscou
Sempre amei desesperadamente livros de ficção histórica. Desde os épicos e brutais livros do Bernard Cornwell até exemplares mais obscuros como O castelo dos alquimistas, do alemão Peter Barstschat (leiam!!!), me fascina a recriação de histórias bem contadas que apresentam um pano de fundo fascinante de eventos/épocas pelos quais me interesso.
Achei justo, portanto, reunir neste post os dois últimos romances históricos que li e adorei: Praia de Manhattan, de Jennifer Egan, e Um cavalheiro em Moscou, de Amor Towles. Dois livros muito bem escritos, mas com tons e temáticas bem diferentes.
Praia de Manhattan tem mais cara de ficção literária, é mais intimista e lida principalmente com relações familiares, rancor e perda, tudo isso ambientado na Nova York dos anos 40, em plena Segunda Guerra Mundial. Enquanto a protagonista Anna tenta conquistar um espaço como mergulhadora na área portuária da cidade, que estava fervilhando com a construção e o reparo de navios de guerra, ela precisa lidar com a vida em casa, onde ajuda a mãe a cuidar da irmã deficiente, e com as relações de seu pai com a máfia nova-iorquina.
O romance é muito bem escrito e de um sentimentalismo bastante elegante. É um livro melancólico, por tratar de relações familiares, mas a autora envolve muito bem a trama na atmosfera da cidade e da época. É muito interessante assistir ao desenrolar da Guerra num país onde não se travaram conflitos diretos; são as consequências do que se passa no front e os rumores do futuro do conflito que impactam a trama. É muito histórico nesse sentido, o pano de fundo e os acontecimentos fazem sim a diferença e moldam a história, além de prestar uma bela homenagem às histórias de máfia e aos romances noirs, à sua própria maneira, claro.
Já Um cavalheiro em Moscou é um livro que é ambientado num local que está passando por um período mais sombrio e crítico: a Moscou à época da Revolução Russa. O protagonista, o conde Rostov, se vê condenado ao enclausuramento pelo resto da vida no grande Hotel Metropol pelos comandantes do novo governo comunista. Lá, ele terá que reinventar seu modo de vida, suas aspirações e se afirmar como alguém relevante naquela nova situação. É um livro que trata sobretudo do fim de uma era e como as pessoas sempre se adaptam ao novo.
No tom, o livro é muito mais leve que o anterior; apesar de toda essa carga dramática do contexto histórico, não deixa de ser muito bem humorado e lidar menos com as mazelas do regime e mais com as minúcias do dia-a-dia daquela nova realidade para o conde. Contudo, ele não deixa de forma alguma passar batido todos os problemas e as contradições da nova condição política da Rússia, só que de uma maneira bastante descompromissada e leve. Eu diria que é uma bela história de homenagem à cultura russa feita por um autor estadunidense e é uma delícia de ser lido. Os personagens são muito cativantes e até fofos, o próprio conde é um show à parte.
No fim, dois livros excelentes que concretizam o se propõem a fazer e que têm finais tocantes. Não poderia recomendá-los mais.


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